EXPLICAÇÕES SOBRE SWING

03/06/2011 17:33

  A falta de envolvimento é o maior benefício dessa prática em que casais ‘emprestam momentaneamente’ seus parceiros para que transem com outra pessoa, geralmente pré-determinada e selecionada em conjunto. É comum rolar sexo entre os quatro participantes, um transando com o par do outro, mas pode acontecer de um querer só olhar, o outro só se masturbar, enfim, nada é obrigatório. “Na troca de casais, as pessoas são muito livres e não existe um modelo de como fazer, é só respeitar a vontade do outro e a sua, essa é a única regra”.


Alice Gouveia organiza festas temáticas de troca de casais no Rio de Janeiro e diz que: “A única regra numa balada liberal de swing é respeitar o direito do outro de não fazer nada. Na festa nós usamos o sistema de pulseiras para sinalizar a preferência de cada um. Isso serve para evitar abordagens indesejadas”, esclarece a coordenadora, que já tem uma frase pronta para ‘educar’ os novatos que chegam à balada: “Sexo desejado não significa sexo realizado. Com isso quero explicar que o fato de alguém estar numa balada liberal não significa que tenha direito adquirido de transar com quem quiser. Tem que haver paquera e consentimento total. Nós orientamos a todos os recém-chegados sobre isso e a quantidade de problemas dessa natureza é muito pequena. As mulheres sabem dizer não quando não querem. Mas também quando elas querem...”, diverte-se Alice.

Para o sexólogo Amaury Mendes Junior, praticar o swing passa longe de infidelidade. “Infidelidade significa trair e o jogo de troca de casais não é considerado em tese como um ato de traição, pois as regras são claras e ninguém pode se considerar enganado. Se em casa cada um transar pensando em outra pessoa, não seria traição? Então por que não ser claro e tentar curtir esta fantasia de maneira que seja possível manter a relação e abrir o jogo de ambos os lados?”, ele questiona. E completa: “Existem muitos casais agindo desta forma. O swing reflete um jeito diferente de encarar o sexo. Sabemos que mesmo um relacionamento sério não barra a imaginação das pessoas e cada um cria inconscientemente uma forma de excitação fantasiosa para incrementar uma noite de amor. Não vejo motivo para o casal não compartilhar essa fantasia”.

Prazer dobrado. Problemas, idem De fato, os números são representativos. À festa semanal carioca que acontece em plena quinta-feira comparecem entre 200 e 400 pessoas. Já uma das casas de swing mais antigas de São Paulo, instalada no bairro de Moema há 13 anos, recebe uma média de 800 pessoas por semana. O gerente de lá, conhecido por ‘Gringo’, conta que a grande maioria dos frequentadores são casais, mas que mulheres e homens sozinhos aparecem sempre. “São pessoas liberais, para as quais o sexo tem grande importância. No início, a idade dos visitantes era acima de 40 anos, mas hoje em dia é bem variada, com muitos jovens. Uma enorme parte dos clientes é casada, mas há também noivos, namorados e mesmo casais de amigos”, ele conta.

Além de gerente, Gringo faz o papel de cupido apresentando e aproximando os casais interessados. Ele garante que as mulheres não estão ali só para agradar aos maridos, não. “Hoje, a mulher que frequenta casas de swing sabe separar sexo de afeto e está ali porque também gosta. Talvez no começo do funcionamento da casa, há mais de dez anos, elas fossem mesmo meio a contragosto, mas hoje não”, conclui o gerente.

Na opinião de Cristina Godoy, psicóloga clínica, hoje a mulher já consegue separar amor e sexo. “Porém, quando se trata de swing não falamos de sexo sem compromisso, mas sim de abrir a relação para que novas pessoas possam se aproximar. A independência da mulher fez com que ela pudesse rever valores, inclusive os da relação. Há 30 anos, o maior valor que a sociedade reservava à mulher era o casamento, hoje isso mudou. A mulher já investe sexualmente na relação e, se o parceiro não tiver interesse em cumprir seu papel, a mulher cobrará ou buscará formas de obter satisfação”, avalia a psicóloga.

Ela vai adiante: “A sensação de medo também é excitante em muitos casos, pois libera adrenalina e nosso cérebro interpreta isso como prazer. Numa relação estável e socialmente aceita essa sensação de frio na barriga só existe no começo. Depois que a novidade acaba e a libido do casal provavelmente já está meio em baixa, algumas pessoas terminam a relação, outras buscam incrementá-la”, conclui.

Segundo as entrevistadas, assim como toda experiência sexual, o swing possibilita provar coisas novas e assim ter mais parâmetro para avaliar o que traz prazer e o que não traz sem se preocupar muito com o que o outro pensa de você, se concentrando em seu próprio prazer. “O sexo, tanto praticado quanto presenciado, é muito excitante! Meu pensamento fica todo voltado para aquela cena e cada suspiro ou gemido do outro é um convite ao prazer em conjunto. É como ver um filme pornô, só que bem melhor porque é realista e está ali na sua frente, ao vivo e em cores”, brinca a fisioterapeuta Bruna*, outra adepta do troca-troca.

Em turma, sozinha ou com seu parceiro, todo cuidado é pouco ao se aventurar no swing. É claro que não estamos falando só de questões práticas básicas, como o uso do preservativo, mas também de ter tudo muito claro em sua cabeça e/ou muito bem conversado com seu par, pois o estrago pode ser tão grande quanto o prazer. “Creio que um casal que entra no mundo do swing precisa ter um diálogo sincero, muita confiança no outro e um vínculo bem estabelecido. Casais em crise, com uma comunicação deficiente, ou questões pendentes, como insegurança, desconfiança e mágoas passadas dificilmente sairão ilesos. É preciso ter objetivos em comum, muito bem conversados. É um grande engano entrar no swing quando já se tem um problema no casamento, achando que, com a novidade, irá resolvê-lo ou apagá-lo. O ideal é que o casamento esteja fortalecido para aguentar o que o casal vai viver”, alerta a psicóloga.